terça-feira, 18 de novembro de 2008

Psicoacupuntura


Vivemos um novo milênio que , com sua chegada, nos trás emanações de novas experiências, sentimentos de introspecção que nos levam a buscar novos caminhos, horizontes...respostas, na ânsia de encontrar soluções para os martírios do cotidiano, do embotamento da síntese relacional do indivíduo para com o outro, na procura de um equilíbrio “mente/soma”.
Essa visão holística à que estamos pré-dispostos leva-nos de encontro à filosofias milenares , como também, às ciências humanísticas contemporâneas com o objetivo mister de minorar nossas dores conscientes e inconscientes.
Levado por esse sentimento é que encontramos uma profunda afinidade entre a acupuntura, medicina milenar chinesa, e a psicologia ocidental moderna.
Seguindo a mesma linha de pensamento das teorias contemporâneas do comportamento, a acupuntura aborda as emoções fundamentais e a reação destas sobre o ser humano, descrevendo, de forma análoga aos modelos psicossomáticos de Hipócrates, as constituições e temperamentos nos quais nossa psique se ampara, chegando ao ponto de não excluir da sua análise os modelos psicanalíticos desenvolvidos ulteriormente.
Sabemos que a acupuntura é uma medicina muito antiga, remonta a pelo menos 6 mil anos, e que os primeiros escritos que conhecemos datam de 2 mil anos antes de Cristo. Originada na China, era muito utilizada pelos antigos médicos chineses como técnica de cura para diversos males.
Buscando curar as doenças os acupuntores utilizam agulhas especiais de ouro, prata ou aço, enfiam suas agulhas em lugares específicos do corpo, pontos estes chamados de acupontos que estão sobre linhas imaginárias denominadas de meridianos.
A acupuntura goza da reputação de curar e aliviar dores, fama à qual é justificada. De modo incontestável ela reduz e em grande parte elimina as dores, as nevralgias(ciática, cervical, lombar, etc...) e as dores do reumatismos (artrites e artroses).
Porém, imaginar que a acupuntura é uma simples redutora ou eliminadora das dores seria limitar a profundidade e complexidade desta ciência milenar. Sua ação não é apenas sintomática mas principalmente etiológica.
Esta ciência atua no reequilíbrio da energia corporal, energia esta que circula pelos meridianos da acupuntura, sobre os quais se situam os pontos energéticos.
Assim é plausível ponderar que a acupuntura é também uma ciência psicossomática que através do reequilíbrio energético atua sobre as desordens psíquicas, a angústia, o nervosismo, a depressão, etc...
Mas para se compreender o mecanismo de ação/reação, é necessário conceber a acupuntura como um modelo eletrônico de funcionamento do corpo aonde circula uma energia de fluxo constante denominada Yin (negativo) e Yang (positivo) , e que esta energia não é estática mas totalmente dinâmica que percorre de um merediano a outro a uma velocidade bastante baixa, proporcional a nossa respiração.
Entretanto é importante compreender que o ser humano não se limita a um modelo mecanicistas e físico, pois uma grande parte de sua atividade, que influencia sua fisiologia, é de natureza psíquica. E por outro lado o homem não é isolado, ele está em seu meio ambiente, sofrendo sua influência. As causas psíquicas podem provocar isoladamente a desorganização de todo o sistema energético dos meridianos, e ocasionar várias desordens. Assim, se o psiquismo estiver em paz e equilibrado, ele estará menos sujeito, e até mesmo isento, de doenças. O psiquismo desempenha papel determinante na vulnerabilidade às doenças.
A medicina chinesa classificou as variantes principais do comportamento humano, como a tendência à cólera e ao arrebatamento; ao excesso de alegria ou de emoções; ao excesso de reflexão ou de preocupação; à tristeza e à mágoa; ao temor, ao medo e o excesso de autoridade. Para medicina chinesa cada uma dessas tendências pode desorganizar o sistema, mas ela o faz de modo privilegiado sobre um determinado meridiano e órgão. Por exemplo, a cólera em excesso prejudica os meridianos do fígado e da vesícula, e a essas duas vísceras.
O estudo do psiquismo em acupuntura vai ainda mais longe, com a idéia de “Alma Vegetativa”. Alma para indicar um princípio psíquico , vegetativa para mostrar a relação com a fisiologia corporal que lhe deu origem.
Seguindo esse princípio, entre as várias funções fisiológicas relativas a dinâmica corporal em acupuntura, cinco delas estão sob o controle dos cinco órgãos mais importantes do corpo humano : o coração, o fígado, o baço/pâncreas, o pulmão e o rim. Para os fisiologistas chineses, cada um desses cinco órgãos é nutrido pelo sangue e pela energia, que levam o que é preciso para que o órgão funcione . Ao funcionar, cada órgão desempenha o papel que lhe é próprio, o pulmão respira, o coração faz circular, o rim elimina, etc... Mas, além dessa função, cada órgão, na teoria chinesa, elabora uma energia específica, que é uma energia essencial, pura, preciosa. Essa energia se ramifica em cinco variantes que impulsionam o coração, o fígado, o baço/pâncreas, o pulmão e o rim para formarem as essências psíquicas, ou humores pode-se dizer, denominadas pela palavra chinesa Shen.
Cada uma dessas “Almas Vegetativas” está em relação com o comportamento psíquico do órgão. Assim, um excesso de atividade do órgão fígado produz um excesso de energia que se vai se traduzir em um comportamento colérico. O inverso também é verdadeiro; uma insuficiência do fígado em seu funcionamento ocasiona uma queda energética no órgão, ou seja, da capacidade de agir em seu meio, de agredir, ou de se defender, e leva à timidez, à ansiedade, e à falta de confiança em sí mesmo.
Vê-se, portanto, a relação entre a saúde do órgão e o psíquismo, e desta forma podemos ponderar que as concepções chinesas sobre o comportamento psíquico estão submetidas a elaboração de uma energia específica que se traduz pelo humores psíquicos que se dirigem ao cérebro.
Em suma, uma falha dos órgãos produz uma modificação do comportamento psíquico correspondente.
Podemos pensar agora que a psicologia não é antagônica a acupuntura, mas sim, parte inerente e constante de uma ciência milenar que através de uma visão holística compreende o ser humano, não dividido em partes, mas como um todo.

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