terça-feira, 18 de novembro de 2008

Depressão e medicina tradicional Chinesa


Para que possamos entender a depressão segundo a filosofia chinesa, é necessário compreender como os chineses conceituam a mente e o espírito em sua cultura.
A mente, denominada de SHEN pelos chineses, é uma das substâncias vitais do corpo, é o mais sutil tipo de energia. O espírito é a conjugação de todos os cinco aspectos mentais e espirituais do ser humano, isto é, Alma Etérea, localizada no fígado, Alma Corpórea, localizada no pulmão, Inteligência, localizada no baço-pâncreas, Força de Vontade, localizada nos rins e a Mente, localizada no coração.
Essa energia sutil, denominada de SHEN, indica a atividade do pensamento, da consciência, da memória e do insight, e todas elas dependentes do coração. Para os chineses existe uma íntima relação entre mente e corpo que é realçada pela integração da essência, denominada de JING, da energia, denominada de CHI e pela mente propriamente dita. Essa essência é a origem e a base biológica da mente, pois a vida acontece através dela. Com a união da energia YIN com a energia YANG surge à vida, e quando essas duas essências se unem, da mãe e do pai, forma-se a mente. Assim, a mente de um recém concebido forma-se das essência pré-natal de seus pais, que após o nascimento fica armazenada nos rins e proporciona a base biológica da mente. Entretanto, a vida e a mente de um recém-nascido também dependem da nutrição proveniente da essência pós-natal subtraida da água e dos alimentos. Portanto, a mente estrutura sua base e nutrição na essência pré-natal proveniente de seus pais e armazenada nos rins, e na essência pós-natal proveniente da água e dos alimentos.
A energia, denominada de CHI, é produzida e transformada pelo estômago, baço-pâncreas e pulmões. A atividade mental tem suas bases dependentes dessa energia e essência, portanto, se o CHI e o JING forem fortes e prósperos, a mente será saudável. Por outro lado, se ocorre um esgotamento dessa energia e essência, a mente irá sofrer, tornando-se infeliz, deprimida, ansiosa ou obscurecida. Porém, a mente também pode afetar essa energia e essência. Se ela estiver perturbada por estresse emocional originando a infelicidade, melancolia ou depressão, essa instabilidade irá desarticular tanto uma como a outra.
Para os chineses o coração é a residência da mente, sendo responsável por diferentes atividades mentais. O pensamento, a consciência, a memória, a inteligência e o sono sofrem uma forte influência dessa relação. Por isso, estando coração e mente equilibrado e forte, o pensamento será claro, a capacidade de atenção, memorização e intelectual serão boas e o sono será tranqüilo. Mas além dessa estreita relação entre a mente e o coração, outros órgãos também têm participação intensa em nosso estado emocional.
Segundo antigas crenças chinesas a Alma Etérea, enraizada no fígado, entra no corpo logo após o nascimento. De natureza sublime, celestial, após a morte ela sobrevive ao corpo e flui de volta para a natureza. A Alma Etérea, basicamente, é outro nível de consciência, diferente da mente, porém, intimamente ligada à ela. Estando a Alma Etérea bem enraizada no fígado, o equilibro emocional, a quantidade e qualidade do sono e dos sonhos serão boas e os relacionamentos interpessoais estarão facilitados. Mas estando a Alma Etérea sem raiz e despojada de sua morada o resultado será a insônia, timidez, medo e perda do sentido de direção de vida, características muito comuns às síndromes depressivas.
O pulmão também tem uma participação singular, pois ele abriga a Alma Corpórea que está intimamente ligada ao corpo, sendo a expressão somática da alma. Esta tem uma estreita relação com a essência proveniente da mãe, surgindo logo após a essência pré-natal do recém nato ser formada, sendo a manifestação desta na esfera das sensações e sentimentos. Por isso, a Alma Corpórea está profundamente ligada às emoções, ao choro e lacrimejar quando nos sujeitamos a situações emocionais pesarosas e deprimentes.
Por outro lado, o baço-pâncreas é a morada da inteligência, pois a energia pós-natal e o sangue são as bases fisiológicas desta. Estando o baço-pâncreas forte, o pensamento será claro, a memória, a capacidade de concentração, o estudo e a produção de idéias também serão bons. Já os rins abrigam a força de vontade, que indicam direção, determinação, propósito na busca de objetivos e motivação. A força de vontade é a base da mente, e esta, direciona a força de vontade, proporcionando uma direção clara nos objetivos traçados. Assim, o esgotamento dos rins leva ao decréscimo desta força de vontade que é um dos aspectos importantes nos quadros de depressão crônica.
Portanto, a interação dinâmica e constante entre essas várias esferas, psíquica, energética e somática, promovem a gênese do equilíbrio físico, mental e emocional. Entretanto, esses mesmos aspectos atuam de forma determinante na origem do desequilíbrio emocional, contribuindo para o desenvolvimento de um estado mental enfraquecido ou perturbado, podendo até evoluir para uma síndrome depressiva.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente e tire suas dúvidas