quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Consumismo: Uma visão psicanalítica

Quando nos referimos ao consumismo da ordem patológica, trata-se da compulsão por compras, por adquirir produtos, bens, serviços ou qualquer coisa que represente a autonomia do consumo.

Por que uma pessoa desenvolve a necessidade da compulsão por comprar?

A resposta é ampla, mas não é difícil. Um dos eventos que leva ao consumismo é o mesmo que leva ao transtorno (por excesso) alimentar, ou seja, a ausência de prazer ou baixa auto estima. “Presentear-se” é algo que oferece prazer e aumenta, mesmo que ilusoriamente a auto estima.

Outro evento, é a necessidade do exercício do poder, e comprar é poder. Entrar num ambiente de comércio, escolher, pagar e levar, é não só experimentar o poder como a liberdade também, mesmo que de uma forma equivocada e momentânea.

E o terceiro evento, mas não menos importante, é a armadilha das “promoções/ liquidações”. A incrível sensação de estar (ilusória, ilusória e mega ilusória) “se dando bem”, de “ter tirado a sorte grande por encontrar produtos tão providenciais por uma bagatela de dinheiro”. Passa a não importar se o produto é necessário naquele momento, “um dia ele será”; se a roupa é o tamanho correto ou não, a costureira ajusta tudo, mesmo que o custo do conserto saia maior do que o da compra; se o sapato é um número maior, não tem problema, põe um algodão na ponta; e assim vai, tudo justifica a aquisição naquele momento, afinal, trata-se de uma oportunidade imperdível. É assim que o consumista encara uma liquidação.

Mas, depois de uma maratona de compras em incontáveis lojas em liquidações, como explicar tudo em casa, sem sofrer retaliações da família? Nada que o porta-malas do carro não resolva e aos poucos vai se fazendo a transição entre carro e guarda-roupa, aos poucos, em surdina, sem muito alarde. Ou então a casa da amiga que serve de guarda volumes.

Agora não há tema mais atual que as tais compras coletivas pela internet. Uau! Que armadilha perfeita para o consumista cair. Seguindo as mesmas premissas que acabei de explicar, e a sensação de grande oportunidade, compra-se o que sequer tem noção do que seja ao certo, às vezes o cupom de desconto da compra nem mesmo chega a ser emitido, ou seja, o desejo era a execução da compra, não necessariamente usufruir dela. Parece absurdo não é? Mais não é absurdo, é doença, que precisa de tolerância e tratamento.

Também não é incomum encontrar o consumismo impulsionado por recalque, a famigerada inveja. A danada comparação com o vizinho do carro novo, com a amiga elegante, com os amiguinhos dos filhos que usam tal grife, e por aí a fora...

Vai dizer que não conhece absolutamente ninguém com estes sintomas? Pense bem.
Se conhecer, não julgue, não proíba, não coíba, não ridicularize porque nada disso resolve, mas a tolerância e a conscientização que isto representa uma fragilidade psicoemocional, que requer tratamento e tem cura, isto sim pode ajudar.

Se você se encaixa nos sintomas e ainda assim se recusa a procurar ajuda, a cada compulsão, se questione: “o quanto isso é essencial para minha vida neste momento, posso sobreviver sem esta compra por alguns dias, semanas ou meses”? E antes que você mesma se sabote afirmando que jamais encontrará outra oportunidade igual a essa, eu já adianto que encontrará sim, e até melhores; ou então, antes que pense que se você vetar todas as compras corre o risco de passar a andar mal vestida ou fora da moda, se a sua aparência é importante para você, então este risco você não corre, use a sua imaginação ao invés do cartão de crédito, pode lhe dar tanto prazer quanto a compra.